
Quando Antônio Souza, 64 anos, começou a trabalhar como frentista, há quase três décadas, o pagamento pelo combustível era apenas em dinheiro ou cheque. O vai e vem das notas que circulavam no posto era constante e o preço do produto, único.
— Agora é por aplicativo, cartão e pix. Cada forma de pagar tem um preço e a gente pouco mexe com dinheiro, como antigamente — descreve.
No posto em que trabalha há 15 anos, a modalidade utilizada por, pelo menos, 30% dos clientes é, segundo os proprietários, pioneira no país. Chamada de vale-litros, a compra antecipada de créditos de combustível permite que o consumidor pague pelo valor do dia e utilize em quantos abastecimentos quiser realizados em até seis meses.
A diversidade nas formas de pagamento em postos de combustíveis vai além da conveniência: ao oferecer descontos por meio de aplicativos, pagamentos antecipados ou programas de pontos, os estabelecimentos buscam fidelizar o consumidor em um setor de margens apertadas e concorrência acirrada.
Lançado há um ano e meio, o aplicativo do Posto Gambino já foi instalado em 46 mil aparelhos e tem, de acordo com Juan Conti, um dos proprietários, taxa de 63% de reutilização. Essa é apenas uma das formas de economizar, um pouco que seja, na hora de abastecer.
— É um serviço que fideliza o cliente. Não existe nenhuma rede de postos do Brasil que faça o que a gente faz, alguns aplicativos trabalham com cupom, mas com validade de três dias. Em caso de promoções mais agressivas, verificamos um percentual de até 45% das vendas em vale-litros — explica Conti.

Receber pelo produto antes que ele saia da bomba obrigou a uma reorganização da rede, que conta atualmente com 37 unidades em municípios da Serra e do Vale do Taquari. De bandeira branca, a rede alterna a compra de diferentes distribuidoras, mas tem utilizado com mais frequência o combustível Rodoil. Para o consumidor realizar o primeiro abastecimento, a carência de três dias, segundo Conti, permite que os estabelecimentos se organizem com o estoque.
— Nos programamos três dias antes da compra. Normalmente já tenho o valor para barganhar o preço à vista e oferecer ao consumidor. Além disso o aplicativo trabalha com sistema de pontos que acumula cashback para o cliente.
Para quem utiliza até quatro tanques de gasolina por mês, como o motorista de aplicativo Douglas Valter, 38, a prática de comprar antes, quando possível, vale a pena, mas é preciso se organizar:
— Gasto até mil reais por mês. Se não pesquisar e organizar, vai pra R$1,5 mil fácil. O vale-litros compro quando sobra um dinheiro e posso garantir o combustível para o mês. Aproveito o preço mais em conta e carrego o aplicativo.
Desconto no litro e pontos de vantagem
Nos postos Andreazza, por outro lado, o aplicativo dá desconto fixo de R$ 0,05 na gasolina e R$ 0,10 no diesel, além de acumular pontos a cada abastecida. Na unidade da BR-116, as promoções sempre nas terças e sextas costumam baixar em até R$ 0,15 o preço do litro.
— O desconto fica mais evidente para quem compra mais, mas é uma forma de fidelizar os clientes que am a abastecer sempre no mesmo posto. A margem de lucro da gasolina é muito baixa, diferente dos produtos da conveniência que os postos incluem para compra com desconto a partir dos bônus acumulados — conta o gerente Ivan Lorenzetti.
Anunciada pela Petrobrás na última segunda-feira (2), a redução de 5,6% no valor da gasolina demorou alguns dias para se traduzir em preços mais baixos nas bombas de Caxias do Sul. Pesquisados pela reportagem do Pioneiro, estabelecimentos tinham, na quarta-feira, valores próximos aos praticados nos últimos dois meses quando, segundo a ANP, a média de preço na cidade ficou em R$ 6,23.

No entanto, em alguns estabelecimentos, o preço ficava cerca de R$ 0,20 centavos menor quando pago com cadastro (app) ou à vista. Preços que variam conforme a forma de pagamento não são novidade em postos de combustíveis e ajudaram a provocar o governo para que a prática fosse regulamentada.
Em 2017, o presidente Michel Temer sancionou a lei que possibilita descontos para os consumidores caso o pagamento seja feito em espécie, e não em cartão de crédito ou débito. Em janeiro de 2025, a chamada Medida Provisória do PIX, assinada pelo presidente Lula, proibiu a diferenciação da ferramenta ao pagamento em espécie.
Em Caxias, por exemplo, segundo o presidente do Sindipetro Serra Gaúcha, Vilson Pioner, dificilmente um posto de combustível terá um preço único:
— Todos os postos hoje têm mais de um preço, para quem paga à vista, com cartão ou convênios. O menor preço dos postos são os praticados nos aplicativos e de postos bandeirados. Por meio deles as companhias se envolvem no valor e, junto do posto que participa com uma parcela, o custo fica mais ível.
Prestar atenção na forma de pagar, segundo o entregador de gás Paulo Ronaldo da Silva, 58, pode representar uma economia de até 30% a depender dos casos.
— A diferença para mim é grande, que uso tranquilamente 600 litros por mês. A gasolina é minha ferramenta de trabalho também, então tenho que estar atento de que forma vou comprar. Mas em alguns lugares é um pouco ilusório, as promoções de pontos, por exemplo, eu não costumo resgatar — alerta.
Melhor forma depende da condição financeira
“O caro e o barato estão na razão de quanto cada um ganha”. A frase do mestre em Economia Mosár Ness resume que cada consumidor tem a sua maneira de lidar com os preços. A forma de pagar a cada parada no posto depende, então, de hábitos de consumo, rotina e orçamento familiar.
É preciso levar em conta que diferenças de R$ 0,10 no valor do litro, para encher um tanque de 50 litros, por exemplo, representa uma economia baixa, de R$ 5. No entanto, se o combustível representar um dos maiores gastos mensais, então é preciso pensar em uma estratégia.
— Cada consumidor tem sua maneira de lidar com os preços, o caro e o barato estão na razão de quanto cada um ganha. Um motorista tem a gasolina como diferencial, então vale a pena antecipar a compra em uma certa quantidade. O que vai tornar o produto mais ou menos caro é a importância que ela tem dentro do mês. Procurar qualquer desconto é importante, mas se não é tão relevante, isso não vai impactar no final do mês — analisa Ness.